sexta-feira, 15 de abril de 2011

Casca de ovo

A propósito de regras de etiqueta e da ausência das mesmas quando alguém já é sobejamente reconhecido como pessoa respeitável, lembrei-me da casca de um ovo.

As regras de etiqueta são como um caminho das pedras para o aprendiz.
É preciso aprender a linguagem para depois poder falar e mais importante que isso, ser ouvido.
Nessa altura já todos sabemos que a mensagem não vem de fora, vem de dentro.

Nessa altura, já ninguém liga à casca do ovo.
Estou-me a lembrar por exemplo do notável Agostinho da Silva. Ninguém olhava para a sua casca, apenas para o seu conteúdo. E haviam muitos que não só o deixavam falar, como também o ouviam.

Na realidade a casca não serve para nada - apenas para colmatar uma insegurança juvenil que surge à volta da gema.

O auto-conhecimento leva-nos a uma vida sem máscaras.
Porque é no conteúdo do ovo que está o valor, não na sua casca.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A mentira

Triste é o momento em que o mentiroso é apanhado.

É triste porque se vê ressoar dentro do mentiroso uma enorme desilusão para consigo mesmo - por aquilo que se é e que se sabe que não se deveria ser.

Sei do que falo. Já menti e já fui apanhado e ainda bem que assim foi. Serviu-me de lição.
Doeu-me no peito – tinha 11 anos e falhei para com o meu melhor amigo. Mas marcou-me.
E agora compreendo este sentimento de desilusão nos olhos de quem desmascarei.
Mas tenho a dizer-te meu amigo. Não deve ser visto com tristeza, deve ser visto como uma boa oportunidade – Uma boa lição para não mais esquecer.

Mentir e ter a sorte de ser apanhado é bom quando se aproveita a oportunidade para aprender.
Assumir, Aprender e Começar de novo – de cabeça levantada.
Não tem mal – Aprender com os nossos erros é sinal de inteligência e maturidade.

O contrário é condenarmo-nos ao caminho do mentiroso compulsivo.
Tristes são os seres humanos que acreditam numa realidade que não existe senão na sua própria imaginação, criada à sua volta, envolta em milhares de mentiras, umas sobre as outras, perdendo-se a noção de quem é. E pior que isso, acreditando que todos à sua volta são cegos.
Tudo apenas para fugir à desilusão.
Tudo para negar que se é humano e que se pode errar.

Chegam a passar-se anos.
A dor não vai parar de acumular.
Pode deixar de doer, mas não vai parar de acumular e corroer por dentro como um veneno, como um ácido.
Até ao ponto em que nos tornamos num vazio só, sem sentido.
E nesse momento acordamos.
Acordamos para o pesadelo que criámos à nossa volta. Que choque. Que Morte.

Mais vale assumir e aprender.
Quanto mais cedo começarmos, melhor.