sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Dois Pombos

Dois pombos fazem a corte a meus pés.
Dois pombos numa luta incessante em perpetuar a espécie.
Dois simples pombos com um objectivo único, instintivo.

E eis que entendo.
O significado sou eu que o dou, a todo o momento.
Os pombos não são eles, sou eu.

Olho mais de perto e finalmente vejo.
Não são dois pombos quaisquer.
São dois pombos amputados.
Trazem ambos apenas uma pata.
Das segundas patas restam apenas sombras de cotos, gastos no alcatrão, quase que imperceptíveis.

E a minha leitura à primeira vista pobre e rude ilumina-se agora com valores que aos pombos não pensava atribuir.

Dois pombos unidos, não no sexo, mas sim na companhia.
Os carinhos outrora interpretados como obsessão carnal, são agora os meus ensinamentos.

Dois pombos companheiros na solidão da exclusão social.

Dois,
Ali proscritos aos olhos de Darwin.
Pernetas, mancos e aleijados.

Dois,
Companheiros até à morte.

Numa experiência íntima.
Uma só vida, a Dois, e à parte.

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